Na era das ciberguerras

20/08/2008
Redação
Zero Hora
No recente confronto entre a Rússia e a Geórgia, ataques à internet precederam os bombardeiosO conflito entre Geórgia e Rússia não só abalou o leste da Europa nas últimas semanas, como também inaugurou um novo tipo de embate: a guerra no ciberespaço. Semanas antes de os primeiros tiros serem disparados, um ataque contra a infra-estrutura de internet da Geórgia já estava ocorrendo. Especialistas em segurança dos Estados Unidos dizem que, por volta de 20 de julho, houve o bloqueio de milhões de pedidos simultâneos de conexão (D.D.O.S, na sigla em inglês), que sobrecarregaram os servidores do país.
Embora o governo da Geórgia tenha culpado a Rússia pelas investidas, a autoria dos ciberataques ainda não está totalmente clara.
– Os russos poderiam bombardear alvos mais estratégicos e eliminar a estrutura física da internet georgiana. A natureza do que ocorreu ainda não está definida – pondera Gadi Evron, especialista em segurança de rede que já ajudou a evitar um ataque à infra-estrutura de internet da Estônia.
Pesquisadores do Shadowserver, um grupo voluntário que monitora atividades maliciosas na rede, informam que o site do presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, ficou fora do ar durante 24 horas por múltiplos ataques do tipo D. D. O. S. em julho. Esse episódio pode ter sido apenas um ensaio para a ciberguerra que coincidiu com o bombardeio russo à Geórgia, duas semanas atrás.
Conforme especialistas, esta foi a primeira vez, mas provavelmente não será a última, que um ciberataque coincidiu com um conflito armado. Bill Woodcock, diretor de pesquisa da Packet Clearing House, um organização sem fins lucrativos que acompanha o tráfego na web, afirma que ataques via internet são tão baratos e deixam tão poucos rastros que certamente farão parte das futuras estratégias de guerra.
– Custa cerca de US$ 0,04 por máquina. Fazer uma ciberguerra equivale a encher o tanque de gasolina de um carro – compara Woodcock.
O ataque contra a Geórgia se espalhou por computadores do governo logo após as tropas russas invadirem a província da Ossétia do Sul, em 8 de agosto. Empresas de telecomunicação, transportes e órgãos de imprensa foram afetados, dizem os pesquisadores. As investidas foram comandadas de um servidor baseado em uma empresa de telecomunicações em Moscou, na Rússia. No entanto, os ataques ocorridos em julho partiram de um computador instalado nos Estados Unidos, que depois foi desativado.
Conforme a Sophos, um empresa de segurança digital britânica, o site do Banco Nacional da Geórgia foi desfigurado. Imagens de Adolf Hitler foram colocadas na página juntamente com fotos do presidente Saakashvili.
A tática de ataques para tornar um site inacessível começaram em 2001 e foi sendo aprimorada desde então em termos de poder e sofisticação. Normalmente, essas investidas são executadas por centenas ou milhares de computadores pessoais controlados remotamente, tornando quase impossível determinar a autoria da ação.
Para se ligar ao resto do mundo via internet, a Geórgia depende de conexões através da Turquia e da Rússia. Na tentativa diminuir essa dependência, com ajuda dos Estados Unidos, o país está construindo uma rede de 1,4 mil quilômetros de fibra óptica sob o Mar Negro, interligando a cidade portuária de Poti a Varna, na Bulgária. A previsão é de que a estrutura fique pronta no próximo mês.

JOHN MARKOFF The New York Times

Nenhum comentário: