Notícias
19/08/2008
Francisco Djacyr Silva de Souza
Observatório da Imprensa
"A maior escola de seu José Miguel é o radinho de pilha. Foi com ele que aprendeu boa parte do que sabe sobre o mundo. Não desgruda do aparelho enquanto está em casa. Até adormece na rede com ele no ouvido, enquanto escuta informações e músicas." Essa parceria ganhou força em 1945, ano em que acabava a II Guerra Mundial.
Então com 18 anos, seu José, que morava no município de Quixadá, ia de cavalo até o distrito de Cipó dos Anjos, distante oito quilômetros de sua casa, para ouvir notícias dos pracinhas brasileiros transmitidas pelo único aparelho da redondeza. Na volta, ele espalhava as novas a todo o vilarejo.
"Sou o mais velho ouvinte do Ceará. E devo todo o meu conhecimento ao rádio. Só estudei três meses da minha vida. Portanto, sou analfabeto, mas minha maior escola foram as informações repassadas pelos comunicadores. Sem o rádio eu não sou ninguém" (reportagem do jornal Diário do Nordeste - 23 /12/2007).
Não podemos esquecer o papel do rádio na educação de nosso povo quando tínhamos o Projeto Minerva, que teve papel decisivo contra o analfabetismo no país. Mas o que tem sido feito para que o rádio continue seu papel educativo nos dias de hoje? Como poderíamos enaltecer o papel deste meio na formação de pessoas e no esclarecimento de nosso povo? Como utilizar o rádio como meio de educação?
Discussões e entendimentos
As respostas a estas perguntas estão na forma como este meio é utilizado e no compromisso dos que o comandam a composição de uma programação que realmente atenda os interesses populares. O rádio pode, sim, e deve ter um papel forte na construção de um processo educativo e na melhoria da formação cultural de nosso povo. O rádio tem sempre força em suas emissões, pois prende a atenção do ouvinte e faz com que aqueles que recebam suas mensagens possam aprender muito a partir das mensagens e na construção de seu conhecimento.
Para fortalecer o papel educativo do rádio é preciso que seus programadores incluam programas de cunho informativo-cultural no desfilar de suas ondas, dando oportunidade aos ouvintes de conhecer o mundo em que vivem, entender as relações políticas e econômicas e fortalecer o conhecimento sobre os aspectos diversos da vida social e cultural do seu espaço de vivência. O rádio bem orientado e bem feito é um instrumento vital para a formação, pois oportuniza mensagens que vão ficar na memória das pessoas e fortalecer o diálogo, o questionamento e a crítica.
É oportuno trazer o rádio para a sala de aula fazendo com que os membros da comunidade escolar debatam e discutam o conteúdo dos programas, verificando sempre de forma crítica as mensagens emitidas e procurando utilizar tais idéias para seu engrandecimento e formação. Temos ótimos programas de debates que falam do dia-a-dia de nosso povo e dos dilemas do mundo contemporâneo. É importante gravar estes programas e depois discutir junto com os alunos as idéias surgidas para promover nas aulas discussões e entendimentos sobre o conteúdo de cada programa.
Veículos de informação
Em algumas rádios já são dadas dicas de orientação sobre a língua portuguesa, sobre ecologia, sobre política, sobre o mundo, mostrando grandes informações que contribuirão certamente para a melhoria da sociedade e para engrandecimento intelectual de nosso povo.
É importante que se façam campanhas acerca do papel educativo do rádio, colocando os jovens em contato com este meio de comunicação, desmistificando a idéia de que rádio é só música e mostrando aos seus usuários a importância deste para a formação e o conhecimento. É preciso que haja união dos que estão direta ou indiretamente ligados a este meio de comunicação (Abert, Sindicatos dos Radialistas, Sindicatos dos Jornalistas, Associação de Ouvintes de Rádio, Sindicatos de Publicitários etc.) no sentido de mostrar a importância educativa deste meio de comunicação para resgatar e fortalecer a importância que este sempre teve na formação de nosso povo e no processo de conhecimento e melhoria de nossa sociedade.
Se o rádio for utilizado como veículo de informação, e não de alienação e criação de baixarias e mitos sem compromisso com o povo, teremos, sim, um mundo melhor e um processo de formação de que o povo merece e sempre espera.
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