Fundo Setorial do Audiovisual chega para alavancar a produção de cinema nacional
Por Aline Souza
Adiantada em duas horas para seu início, a cerimônia de lançamento do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), no Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro, reuniu nesta quinta-feira (02/12) autoridades políticas e culturais em torno da nova possibilidade de financiamento para o cinema brasileiro. Inicialmente serão investidos R$ 74 milhões nas primeiras quatro linhas de ação ao longo de 2009. Os recursos são oriundos da atividade econômica do setor, da Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional- CONDECINE e do Fundo de Fiscalização das Telecomunicações – FISTEL.
O Comitê Gestor do FSA é composto por dois representantes do Ministério da Cultura – MinC – Juca Ferreira e Silvio D-Rin; um da ANCINE – Agência Nacional do Cinema, que é um dos agentes financeiros credenciados – Manoel Rangel e dois membros da indústria audiovisual, designados pelo Ministro da Cultura, Juca Ferreira – Paulo Mendonça e Gustavo Soares Steinberg. A ANCINE também exerce a Secretaria Executiva emprestando apoio técnico, administrativo e operacional para as atividades.
Em seu discurso, o ministro Juca Ferreira disse que é preciso ampliar o conceito de qualidade de vida incorporando a cultura. Além disso, anunciou em primeira mão, que o PL 29 entrará em votação na próxima semana, o que deverá ser efetivado e concluído no próximo ano. “Era o que estávamos aguardando para a área do audiovisual e o casamento perfeito com a TV”, afirmou. De acordo com o ministro, até agora o sistema de incentivos fiscais era contraditório porque obrigava os produtores a uma verdadeira romaria em busca das grandes empresas investidoras, o que deixava a cultura cada vez mais refém dos interesses privados. O FSA é apenas um dos que ainda deverão ser criados dentro da proposta de mudança da Lei Rouanet, que vai introduzir cada vez mais a participação do Estado por meio do fortalecimento do Fundo Nacional de Cultura (FNC).
Paulo Mendonça - Canal Brasil
O diretor do Canal Brasil e membro do Comitê, Paulo Mendonça, disse que “o FSA vem para consolidar o audiovisual com recursos próprios, um grande passo para o qual o cinema brasileiro conta”. O modelo de atuação do fundo é combinar gestores públicos e representantes do setor; mecanismos de financiamento diversos e a capacidade de atuar nos diferentes elos da cadeia.
Lula em discurso de cerimônia
O presidente LULA também deu a sua palavra de positividade para a bonança que espera os realizadores de cinema no Brasil. Afirmou que a crise de que todos falam, precisa ser vista como uma oportunidade para o Brasil crescer e que é necessário sobrar dinheiro para as pessoas irem ao cinema.
Juliana Carvalho (Bang Filmes)
A produtora Juliana Carvalho, da Bang Filmes, acredita que o FSA é uma grande sacada. “O FSA pretende fomentar a cadeia inteira da produção cinematográfica até o quesito equipamentos. O mais importante é que o Estado será parceiro no investimento, e o risco, que antes era só do empreendedor, agora será do Estado também, será de todo mundo junto”, anima-se. É importante salientar que o FSA visa contemplar atividades associadas aos diversos segmentos do setor: produção, distribuição/comercialização, exibição e infra-estrutura de serviços através de investimentos, financiamentos, operações de apoio e equalização de encargos financeiros.
Vânia Catani (Bananeira Filmes)
A norte - mineira Vânia Catani, diretora da Bananeira Filmes, disse apostar na ação cautelosa do FSA que irá valorizar a qualidade artística das obras e priorizar o seu conteúdo com alto grau de competitividade nos mercados doméstico e internacional. “Os gestores estarão atentos à competência de mercado da empresa e o mais incrível é que não levarão em conta somente projetos comerciais. Existe outro perfil de projeto cinematográfico que também precisa ser produzido e precisa de grana para isso”, declara. Entretanto Vânia é categórica quanto ao acesso: “acredito que o Fundo foi desenhado para empresas mais estruturadas no mercado, é como se fosse uma graduação, ele requer certo ‘expertise’, certo conhecimento profundo de causa”, compara. A Bananeira Filmes acaba de lançar o primeiro filme do estreante diretor Selton Melo, Feliz Natal, em cartaz nos cinemas.
Tarcísio Vidigal (Grupo Novo de Cinema)
Para o diretor do Grupo Novo de Cinema, Tarcísio Vidigal, o que chamou a atenção é de fato a atenção dada á distribuição. De acordo com suas informações, de 619 filmes catalogados pela ANCINE, 491 não possuem distribuidor e esse é um número alarmante. “É a primeira vez que alguém pensa neste detalhe de colocar dinheiro na distribuição e na compra de direitos, o grande gargalo do nosso cinema”, afirma.
Leandra Leal, Julia Moraes e Cláudio Assis
A cerimônia não seria a mesma sem a presença do polêmico e visceral Cláudio Assis, que disse entender o momento atual como uma cura para o banho de água fria dado pela Petrobrás, que vem cortando seus patrocínios nos setores da Cultura e do Social para fugir da crise econômica. “Diante disso, o que seria de nós sem o Fundo? Se for bem administrado, ele veio para salvar o cinema nacional”, profetiza Cláudio. A respeito do acesso ao FSA, anteriormente discutido, Cláudio Assis diz que “o cara Zé Ninguém que quer fazer cinema, tem que lutar, tem que provar que faz algo bom, tem que ser honesto e começar de algum lugar”. O diretor é dono da Parabólica Brasil e deve finalizar as filmagens de seu próximo longa Febre do Rato em breve “com a ajuda de Deus na frente e o Diabo empurrando atrás”.
O clima otimista ficou reservado a poucos. Nos bastidores do coquetel que se seguiu à cerimônia de lançamento, ouvi de alguns produtores com mais de 26 anos de experiência que algo não cheirava bem pelo fato de, na primeira fila, estiveram presentes representantes de grandes distribuidoras estrangeiras como a Universal Pictures.
Helvécio Marins Jr. (TEIA)
Para o também mineiro Helvécio Marins, é difícil prever porque a política do governo sempre foi centralizar tudo em Rio e São Paulo. “Acho isso péssimo e eu espero que mude. São poucos do cinema mineiro que estão neste páreo”, disse o cineasta, que é integra a produtora TEIA e representa o Festival de Cinema de Locarno na América Latina.
As quatro linhas de ação iniciais são: A- Produção Cinematográfica de Longa-Metragem, B - Produção Independente de Obras Audiovisuais para TElevisão, C - Aquisição de Direitos de Distribuição de Obras Cinematográficas de Longa-Metragem e D - Comercialização de Obras Cinematográficas de Longa-Metragem. O Fundo Setorial do Audiovisual foi criado pela Lei Nº 11.437, de 28 de dezembro de 2006 e regulamentado pelo Decreto nº 6.299, de 12 de dezembro de 2007 como uma das categorias do Fundo Nacional de Cultura (FNC). Vida longa e útil ao FSA!!
Mais informações em ouvidoria.responde@ancine.gov.br ou no site www.finep.gov.br
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